Acabei de ver Teacher, um filme com David Dastmalchian sobre um professor que começa a presenciar bullying com 2 alunos de sua aula e decide intervir. Para alguns esse seria apenas mais um drameca barato sobre bullying e desse assunto já temos muitos filmes e até livros a respeito. Mas talvez para outros, assim como foi para mim, esse filme venha a ressoar de forma mais intensa e traga muita reflexão.
O filme colocou não apenas o dedo na ferida, em mim foi a mão inteira como se suas garras narrativas me rasgassem internamente. E calma, isso é bom e ruim, ao mesmo tempo.
Não sou muito de falar por aí sobre o que eu passei em fase de escola pois é bastante sombrio até mesmo para mim e tem muitas coisas que mesmo agora com 30 anos ainda não cicatrizaram por inteiro. E foi justamente ali que esse filme bateu com tudo, tal qual um carro desgovernado. Me vi, particularmente, em dois personagens e nem mesmo posso dizer que julgo-os por cada escolha que fizeram.
Mas posso dizer com propriedade que eu sei como é vivenciar o bullying e não nenhuma intervenção. Se sentir vulnerável em ambientes que deveriam ser acolhedores é assustador. Ver os adultos que te cercam não fazendo nada a respeito é completamente desolador. E quando nenhum dos ambientes te acolhem você acaba desenvolvendo mecanismos de defesa horríveis, que custam a desmancharem.
As dores do bullying, de certa forma, da violência como um todo deixam a vida bastante amarga. Alguns caem em vícios na tentativa de anestesiar essa dor. Outros buscam formas nocivas de ter o mesmo resultado. E é dessa forma que Teacher mostra o resultado da constante violência, seja ela física, mental, verbal.
Entrando em uma página mais pessoal a meu respeito, o bullying me afetou de uma maneira muito específica. Já com uns 8 anos eu me vi obrigada a construir esse muro de resistência e isso acabou me tornando uma pessoa mais isolada, que prefere a própria companhia e ambientes vazios do que a presença de qualquer outro ser humano por perto. Também me tornou uma pessoa, que mesmo fora das crises da condição que eu tenho (transtorno afetivo bipolar tipo 2), vive de forma mais melancólica.
E além da retratação da violência o filme faz uma menção bacana para O Mercador de Veneza, de William Shakespeare. No caso Teacher traz uma pequena reflexão a respeito do Shylock, um dos personagens da peça teatral. Em uma das cenas o personagem James (David Dastmalchian) pergunta para seus alunos a respeito da moralidade a cerca de Shylock, e vemos alguns o chamando de vilão vingativo por conta de uma atitude que ele tem, outros o chamando de vítima e temos o próprio James dizendo que Shylock pode muito bem ser ambos. Uma vítima também pode ser muito bem um vilão, no conceito padrão da sociedade. Eu prefiro enxergar como alguém com camadas, e complexidade que uma maioria sequer tenta ver. Inclusive, meio que fugindo do assunto, no meu perfil do skoob coloquei a seguinte frase como “definição” de quem eu sou: “Gosto de personagens complexos e moralmente duvidosos”. E com isso fica bem óbvio o porquê mencionei antes que não julgo os personagens pelas ações que vieram a tomar durante o filme.
Ao meu ver, Teacher não é um filme simples e pode demorar muito para ser “digerido” por quem assiste e principalmente por quem consegue de fato VER o filme pela sua perspectiva de complexidade humana. Seria o personagem X um vilão? Seria um heroi? Uma vítima? Ou ambos, tal qual Shylock?
Vemos muito no dia dia pessoas que tomam decisões extremas e sempre os apedrejamos. Eu, pessoalmente, vejo muito isso sob o olhar de que apenas julgamos nos outros aquelas atitudes que nós mesmos faríamos mas que não aceitamos o fato de que seríamos capazes de agir da mesma forma. O tal do “você aponta 1 dedo e pelo menos 3 apontam de volta para você”. Afinal, que outra maneira temos de reconhecer defeitos e julgar ações de terceiros além da nossa própria experiência com tais defeitos?
Teacher é agridoce. Mas também é amargo. É ardido. Doloroso. E eu gostei muito disso.

Deixe um comentário